quinta-feira, 29 de abril de 2010

Maria de Queiroz


Eu quero da vida o que ela tem de cru e de belo.Não estou aqui pra que gostem de mim.Estou aqui pra aprender a gostar de cada detalhe que tenho.E pra seduzir somente o que me acrescenta.
Adoro a poesia e gosto de descascá-la até a fratura exposta da palavra.
A palavra é meu inferno e minha paz.
Sou dramática, intensa, transitória e tenho uma alegria em mim que me deixa exausta.
Eu sei sorrir com os olhos e gargalhar com o corpo todo.
Sei chorar toda encolhida abraçando as pernas.
Por isso, não me venha com meios-termos,com mais ou menos ou qualquer coisa.Venha a mim com corpo, alma, vísceras, tripas e falta de ar...
Eu acredito é em suspiros,mãos massageando o peito ofegante de saudades intermináveis,em alegrias explosivas, em olhares faiscantes,em sorrisos com os olhos, em abraços que trazem pra vida da gente.
Acredito em coisas sinceramente compartilhadas.
Em gente que fala tocando no outro, de alguma forma,no toque mesmo, na voz, ou no conteúdo.
Eu acredito em profundidades.
E tenho medo de altura, mas não evito meus abismos.
São eles que me dão a dimensão do que sou.

quinta-feira, 1 de abril de 2010

elisa lucinda.

"ao abrir um livro de Quintana, lançou-me na cara: “Desconfia dos que não fumam: esses não tem vida interior, não tem sentimentos. O cigarro é uma maneira disfarçada de suspirar...”. Pirei! De novo Quintana tinha razão: ao fumar visitamos nossos interiores, refletimos, conversamos com nossas vozes íntimas, e é por isso que o Zeca Baleiro diz que “a solidão é o meu cigarro”, mas, para os meus propósitos, me agarrei foi no final, na função do verbo suspirar. Então comecei, só para brincar, a fumar um cigarro imaginário e tragá-lo profundamente, suspirar e soltar o ar. Dá uma onda parecida com yoga, parecida com amor. Sou romântica, e os românticos suspiram profundamente; o ar visita as vísceras, o diafragma, enche os pulmões, oxigena o cérebro e volta outro pra donde veio. Então é isso, agora eu ministro suspiros em mim quando lembro, quando quero, quando preciso, e sem me matar por isso. Espero assim, pelo menos desse jeito, adiar para muito longe o meu último suspiro."

Conhecer a si mesmo não é só saber precisamente como somos e como sentimos. É saber lidar com todos os pensamentos, vontades, emoções que possam aparecer pelo caminho e que, de certa maneira, interfiram na razão e nas próprias atitudes.

Às vezes é preciso mesmo aprender a morrer. Aprender a viver é uma utopia e só entendendo a incerteza da morte é que passamos a abrir mão de adiar vontades. Acho que é aí que a gente vive cada uma delas sem medo de opiniões alheias ou medo de ter que aparentar alguma coisa que seja convencional só pra parecermos normais.

Mas normalidade existe? Existe mesmo um padrão pra ser gente? É obrigatório fechar os olhos pra dias tão injustamente e infinitamente melhores do que os outros e aderir ao conformismo acreditando que eles são exceção?
De vez em quando me deparo com a dúvida. Não sei se estou sendo correta, mas o que eu sei é que eu estou sendo correta - pelo menos - comigo mesma. É uma forma de morte dentro da vida ter que aceitar uma vida que não é minha, que eu não quero, que eu não aguento.

Eu não sou de cristal, eu não preciso de alguém que me dê segurança. Eu preciso quebrar, reconstruir e quebrar de novo quantas vezes for necessário. Só assim posso ter a sensação de que eu sei exatamente quem eu sou e fiz exatamente o que deveria ter feito, e esse sentimento não tem preço.



They give you this, but you pay for that
And once you're gone, you can never come back