No começo mal podia suportar minha própria companhia, não aguentava ficar em casa sozinha, vivia de festa em festa, de bar em bar, trabalhava mal, conhecia as pessoas erradas, ria de desespero .
Não sei para onde estou indo, não sei o que estou fazendo, e nem mesmo sei quem sou. Bela iniciativa a minha, a de fingir que nada estava acontecendo.
Consegui por alguns dias, de que o amor não existe, e de que nem meu próprio amor era de verdade. O pobre diabo apaixonado é apenas alguém míope, que idealiza demais.
De repente me pareceu tudo fútil, vazio e sem sentido, não me conheço assim sozinha, e tenho muito medo de mim, da minha personalidade auto- destrutiva. Estou me auto destruindo, guiando meu navio fantasma direto para uma parede de pedra, em alta velocidade e ouvindo música no último volume.
Escondo minhas feridas ao máximo, sem me dar conta do quanto minhas tentativas as tornam mais e mais explícitas. Até mesmo um cego enxergaria no ato o quanto estou definhando, me acabando. Qual minha alternativa ? Eu não deveria estar conhecendo pessoas? É patético mais ninguém me interessa, ninguém é interessante, todo mundo é um saco, todos são autocentrados demais, decadentes demais, carentes demais.
Impressionante a atração que sinto pelo estrago, o quanto olho o precipício e quero pular, o quanto eu vejo fogo e quero tocar, como se eu estivesse desesperada por uma nova dor, como se uma nova dor pudesse amenizar a lembrança da antiga, e assim, de dor em dor, eu pudesse finalmente chegar a um cais seguro.
Talvez uma opção fosse fazer da minha casa meu mausoléu, não me mover mais de lá, não me mover nem da cama. Sair pra quê? Se tudo é uma grande perda de tempo, não há nada pra mim lá dentro, mais também não há nada pra mim do lado de fora.
Tudo isso, toda essa farsa que eu me tornei, todo esse sorriso forçado pregado no rosto e essa autoconfiança mal fingida e descarada, para uma manhã medonha de sexta feira, dar de cara com esse cadáver apodrecido há uns dias sentado ao meu lado no carro. Essa é a metáfora perfeita pra mim, sentado ao meu lado está sentado o cadáver do amor que eu não quero mais e não consigo abandonar. Desfigurado, pútrido e cheirando muito mal, eu o carrego comigo pra onde quer que eu vá. Ele me parece ter cerca de duas semanas, mais bem já poderia contar um mês, não sei precisar a data exata da morte desse amor, não sou legista sentimental.
O dia amanheceu horrível, nublado, uma garoa irritante caindo do céu, atrás dos meus enormes e exagerados óculos, estão escondidos olhos que já não conseguem chorar, acompanhando olheiras de uma semana inteira, insone e seca de lágrimas.
Saio do carro carregando-o nas costas, mesmo quando eu o ignoro ele está sempre ali. Sento na minha mesa de trabalho não sem antes acomodá-lo no meu colo, ele fede, ele pesa, ele se desmancha, mais não me imagino sem ele e não o quero mais.
Tenho vontade de apagar a passagem dele aqui, e poder ignorar a sensação estranha, de ser ex-amor, ex- pessoa importante, de ter sido abandonada e esquecida.
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